Herbert de Jesus Santos
Milhares de conterrâneos (que participaram do seu velório, no Parque do Folclore Humberto de Maracanã, foliões do festejo junino e do carnaval, populares da Vila Palmeira, Sacavém, João Paulo, Monte Castelo e Liberdade, esperaram o seu féretro, na Praça da Saudade, fãs do Lira, Belira, Goiabal, Codozinho, Madre de Deus, Areinha e entorno, e centenas que se acotovelaram, para assistir ao seu sepultamento, no Cemitério do Gavião) dimensionaram a importância da radialista Helena Leite para a Cultura Popular Maranhense, nos últimos 20 anos. Foi o ocorrido entre a manhã de 30 de março (sábado), com o seu corpo velado e o caixão coberto pela bandeira do Moto Club de São Luís, seu time do coração, após o óbito ser anunciado nas rádios, até às 12 h de 31.3 (domingo). Com a saúde agravada, fazendo sessões de hemodiálise, a combativa radialista morreu, aos 67 anos, após sofrer um infarto fulminante, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Vinhais, aonde foi levada após sentir-se mal em casa, no Residencial Pinheiros (Cohama). Ela foi presidente do Boi da Pindoba (Paço do Lumiar); deixou quatro filhos (Ronner, Rita, Ramilson e Anete) e sete netos, presentes no enterro, como o ex-marido, Paulo Fraga, que jogou no MAC, nos anos 70.
Uma multidão presenciou a chegada do corpo num ataúde conduzido por carro dos Bombeiros, até na Rua São Pantaleão, de onde, em cortejo, foi carregado pela Av. Ribamar Pinheiro e Rua do Norte, pegando a Rua do Passeio, e ao som de matracas, pandeiros, tambor-onça de integrantes dos bois da Pindoba, Maioba, Ribamar, Maracanã, Madre de Deus, dentre outros, e toadas, qual as dos cantadores Ronaldinho (Boi da Pindoba) e Neto (Juçatuba), recebido com palmas na frente do Cemitério do Gavião. Na representação de manifestaçõescarnavalescas, de bumba-bois e de culto afro-brasileiro, comunicadores, comunitários, estiveram presentes: Bruxela, Layce Aguiar, cantador Mané Onça, Purezinha, José de Ribamar e este repórter (Boi da Madre de Deus); jornalista Manoel dos Santos Neto (Jornal Pequeno);Riba (cantor e compositor do Grupo Palmares); maestro Nonato Silva; cantor e compositor Roberto Ricci; Toinho Dantas (Grupo Piaçaba); Dalva Ferreira (Boi Itapera/Icatu); Adalberto boieiro: Raimundo Melo (dirigente do Bloco Os Tremendões); Gabriel Melônio (cantor da Turma do Quinto e do Bloco Príncipe de Roma); Gersinho Silva (compositor e diretor da Turma do Quinto); Betinho Lima e Aírton Ferreira (Associação de Amigos da Casa de Nagô); tenente Celso (Bloco Dragões da Madre Deus); Renato Dionísio (presidente do Boi Pirilampo); cantor e compositor Paulinho Akomabu (Bloco Akomabu e Centro de Cultura Negra);Godinho (cantor e compositor); Mestre Júlio (Favela do Samba); Maria Prefeitura e Diva Maria (diversas brincadeiras); ex-jogador de futebol Mizael; Josemar Pinheiro (advogado, jornalista e radialista); tenente Carlos (blog Portal do Munim); cantador Zequinha de Coxinho (Boi Unidos de São Bento); Basílio Durans (presidente do Grupo Cultural de Boi de Zabumba e Tambor de Crioula do Maranhão); Nélio Silva (presidente da Império Serrano); Simão Cirineu (guia de Turismo e poliglota); Agostinho (Bloco Originais do Ritmo); Arthur Silva dos Santos (Coordenação da Festa de São Pedro); Rosário Costa (Festa de São Sebastião do Pau do Santo/Madre de Deus); o advogado e compositor de toadas Hélio Braga; Jorge Coutinho (Bloco Cobras nas Estrelas); radialista Jonas Mendes;
Ribão d´ Oludô (compositor, cantor e presidente da Unidos de Fátima); Zé Bichinho (Unidos de Fátima e Boi de Maracanã); Jocelebe Nogueira (Conselho Cultural da Madre de Deus); PRF Luís Carlos Sacramento e esposa, Francinete; as irmãs Nilta e Nilda Azevedo; Joel Jacinto e Juarez Sousa (comunicadores da última equipe de Helena Leite); etc.
Quem a viu chegar de Viana na Liberdade — Contemporâneo da pranteada e ex-colega de Liceu deste repórter, Ivaldo do Rosário Silva (Ivaldo Prego) viu quando ela chegou de Viana, para morar na Rua Tancredo Cordeiro (no fim da década de 1950, no ainda Matadouro); elenascido e criado na Rua Fagundes Varela: “Era filha de Dona Joana Leite, e enteada do Seu Honório Capeta, assim apelidado pelos amigos, como o meu saudoso pai, o mestre de obras José Cupertino da Silva, Zé Prego; fez Liceu e cedo se interessou pelo rádio, sendo a primeira repórter de pista em campo de futebol do País!” — ele destacou, hoje, no Conjunto Bequimão. “A mãe dela está viva, com noventa e três anos de idade, mais velha do que minha mãe Dona Benedita dois anos!” — acrescentou, com: “Aposentado, nos últimos anos, não perdia a luta dela num programa de bumba-boi ou carnaval!”
O início da carreira por quem entende do artigo — O radialista e jornalista Haroldo Silva confirmou o dito por Ivaldo Prego: “Foi no começo dos anos de 1970, ela com 20 a 21 anos, quando trabalhamos na Rádio Timbira, e ela não perdia uma entrevista com jogadores, fosse no vestuário do Nhozinho Santos; e a seguir, na Rádio Educadora, criou um programa com audiência lá em cima!”. O presidente do Sindicato de Jornalistas Profissionais de São Luís, Douglas Cunha, não a deixou por menos: “Eu havia ingressado no radio-jornalismo da emissora do clero, em 1973, e testemunhei a dificuldade de se passar no corredor tomado por participantes do programa dela! Só não foi mais longe, pois, fiel ao seu estilo, não levava desaforo para casa!”
A fonte da verdade enriquece o perfil do ídolo — Quanto seus colegas supracitados, o radialista Robson Jr., que a conheceu na adolescência, reiterou que ela era a maior audiência da Rádio Educadora, nos anos 70, movimentando a cidade com concursos para taxista mais popular (descobriu o Waldick, cover do original Soriano), jogador e locutor mais querido. Falou de cadeira: “O corredor da Rádio Educadora ficava lotado pra que a gente votasse, na Rua do Sol, 535, prédio de azulejos verdes; e me impressionei com a agilidade da jovem locutora de corpo esguio e voz potente. Falava alto e magnetizava quem a ouvia. Helena fez esporte e com sua irreverência entrava em vestiários pra entrevistar jogadores”. Para ele, quando ela voltou a São Luís, no exílio há 20 anos, permaneceu com a voz alterosa, agora em defesa das nossas riquezas da Cultura Popular.
O derradeiro encontro na passarela foliona — O cantor, compositor e publicitário, Marco Duailibe, que conversou com ela, na passarela do samba do Anel Viário, neste carnaval, no desfile de blocos eescolas de samba, foi profundo, nas redes sociais: “Deus sabe quanto fiquei feliz, quando a vi naquele camarote, vencendo os limites para fazer o que mais amava: lutar pela nossa cultura. Jamais imaginei que seria o nosso último encontro. Mas pude lhe dizer o quanto era importante para o nosso Maranhão. Hoje sua voz se calou; o tambor-onça chora, as matracas emudeceram, os pandeirões silenciaram; e somos um só batalhão entristecido com sua despedida!”
A última felicitação de aniversário — Joel Jacinto recordou sua última mensagem para ela, no Jornal Pequeno: “Momento social. A coluna não poderia deixar de registrar a passagem do aniversário da comunicadora boieira Helena Leite, nesta terça-feira, dia 26 de março.
Mesmo sem prefixo, ela continua atuando como defensora da cultura popular. A ela desejamos votos de longa vida feliz, com saúde, e muita garra, para continuar levantando a bandeira da cultura popular e dos excluídos. E que em breve possa a voltar ao rádio.”
Um batalhão de calças-frouxas e bloco de sangues de barata — Um dos grupos sociais mais atuantes na Revolução Francesa foram os sans-culottes, com suas calças compridas e largas, enquanto os ricos usavam calças curtas e apertadas, chamadas de culottes. Temos, aqui, os calças-frouxas, sem um ai quando Helena Leite teve seu contrato rescindido pela Rádio Difusora, onde apresentava o Canta, Maranhão! Viram-na cair mais em depressão, com a ameaça de perder o salário da Câmara, onde poderiam subsidiá-la e reverter a perda de espaço, onde o reggae estrangeiro, charlando com mais programas radiofônicos, tem museu, e o bumba-boi, nativo, nada!
Em memória de Helena Leite e Escrete — Na minha coluna Sotaque da Ilha (JP Turismo), fiz questão de honra, para ela voltar ao rádio, sabedor da sua importância à nossa herança cultural. Em 1997, na passarela do samba, fui com uma comissão de dirigentes criticar o poderoso da comunicação, Fernando Sarney, falado por trás da trama para extinguir as escolas de samba, e me deixaram com um iceberg (que no meu aniversário de 50 anos, via agência de publicidade do poeta Alex Brasil, parabenizou-me, num telegrama); a mesma coisa, por uma lei municipal, que dava preferência à música maranhense, nas emissoras.
Dando um crédito de confiança aos faltosos: podem lutar, para que Helena Leite tenha uma placa na casa onde ela residiu, na Liberdade; no arraial junino do bairro, haja o nome dela; no carnaval, com Passarela do Samba Chico Coimbra, o Circuito Carnavalesco Helena Leite e Escrete do Samba, em alusão ao cantor e compositor sambista de mão-cheia Escrete. Se quiserem pelejar mesmo, pela Passarela do Samba fixa (que será a salvação da lavoura do nosso carnaval de rua), agilitem uma Revolução Francesa, lembrança da dos pobres de Paris, derrubando a Bastilha (prisão que deveria ser para a nobreza), quando guilhotinaram os culottes! E avisem ao poeta aqui que será briga de cachorros grandes!
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