BRASÍLIA – Dois meses após anunciar que o ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto tinha “90% de chances” de ser o vice em sua chapa à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) deixou explícito que a decisão não está tomada e que há ao menos um outro personagem no páreo: a deputada e ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP-MS), pré-candidata ao Senado. Além do potencial de atrair o eleitorado feminino, a parlamentar do Centrão tem bom trânsito entre empresários e é considerada habilidosa.
Integrantes do núcleo duro da campanha vêm defendendo o nome dela junto a Bolsonaro. Por ora, ele indica que Braga Netto continua sendo seu preferido, mas, diferentemente do que vinha ocorrendo, passou a considerar abertamente escolhê-la para o posto. Ontem, em entrevista no Palácio do Planalto, o presidente classificou Braga Netto como “palatável” e, pela primeira vez em meses, afirmou que a questão ainda está em aberto:
É um nome que é palatável, é um nome de consenso, que sabe conversar com o Parlamento. É um colega meu da Academia Militar (…) Ele pode ser o vice. Alguns querem a Tereza Cristina, um excelente nome também. Mas isso vai ser definido mais tarde.
A ex-ministra preencheria uma lacuna considerada fundamental para a vitória de Bolsonaro, o apelo entre as mulheres, público entre o qual ele enfrenta maior rejeição. Inicialmente, o plano da campanha era que a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, se engajasse na luta por votos. Recentemente, porém, ela demonstrou resistência a participar da propaganda partidária do PL, partido ao qual se filiou, como estava previsto.
Também pesa a favor de Tereza Cristina o livre acesso ao empresariado do agronegócio. Na avaliação do entorno de Bolsonaro, a presença dela poderia ampliar o leque de doadores dessa área. O setor é um dos focos de preocupação e, segundo a colunista Bela Megale, do GLOBO, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi escalado para coordenar a arrecadação.
Integrantes da campanha argumentam ainda que a deputada pacificaria o incômodo do Centrão com a presença de um militar na chapa. Aliados do governo sustentam que Braga Netto não agregaria votos a Bolsonaro, para além dos que ele já tem. Apesar disso, o ex-ministro continua acompanhando o chefe em praticamente todas as viagens, embora hoje ocupe o posto de assessor especial da Presidência, um cargo de segundo escalão.
Questionado se uma mulher na vaga de vice seria vantajoso, o presidente disse que a escolha não passa por aí:
É uma pessoa que ajude a governar, não interessa se será mulher ou não — disse ontem.